INTERVENÇÃO PROFERIDA PELA VICE-PRESIDENTE DO MPLA, MARA QUIOSA, NA CIMEIRA DOS ANTIGOS MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO DA ÁFRICA AUSTRAL

Luanda – 27.07.2025

Excelências;

Líderes e delegados dos Partidos Irmãos aqui representados;

Distintos convidados;

Minhas senhoras e meus senhores;

É com imensa satisfação que tenho a elevada honra de endereçar as calorosas e fraternais saudações do Camarada João Lourenço, Presidente do MPLA e dos milhares de militantes, simpatizantes e amigos do nosso Partido.

Em representação do Camarada João Lourenço, Presidente do MPLA e da República de Angola, saúdo com um profundo sentimento patriótico a realização desta Cimeira dos Movimentos de Libertação da África Austral, que se realiza, sob o lema: “Defender as Conquistas da Independência, Promover o Desenvolvimento Socioeconómico Integrado e Fortalecer a Solidariedade para uma África melhor”.

Estimados líderes;

Caros camaradas;

A realização da presente Cimeira reveste-se de particular importância e de um simbolismo inquestionável, pois se realiza num momento em que os nossos respectivos povos e nações enfrentam novos e complexos desafios que exigem concertação, articulação, comunicação e sobretudo solidariedades entre os nossos partidos irmãos e povos.

Há um rico proverbio africano que diz: “Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo.” Este provérbio sublinha a importância da colaboração e do trabalho em equipa. Enquanto a rapidez pode ser alcançada individualmente, a verdadeira sustentabilidade e sucesso a longo prazo requerem apoio mútuo e cooperação.

E, o exemplo prático está enraizado no nosso percurso histórico de luta para as independências dos nossos países, que exigiu esforços conjugados e ajuda entre os nossos partidos e povos.

Por tal facto, a nossa presença aqui reafirma o profundo compromisso do MPLA com os princípios que sempre nortearam as nossas lutas por liberdade, unidade e igualdade para os nossos respectivos povos.

Valores pelos quais várias gerações de africanos, particularmente os pais-fundadores das nossas respectivas nações, bateram-se exaustivamente, sacrificaram as suas vidas, e que permanecem como pilares indispensáveis para a construção do futuro que ambicionamos para as nossas sociedades.

Excelências;

Estimados camaradas;

O MPLA entende que o lema desta cimeira — Defender as Conquistas da Independência, Promover o Desenvolvimento Socioeconómico Integrado e Fortalecer a Solidariedade para uma África Melhor — é um apelo à consciência colectiva dos nossos respectivos partidos, antigos Movimentos de Libertação. Recorda-nos que a nossa luta não terminou com a bandeira nacional erguida nos mastros das capitais;

Ela continua, agora no combate contra a pobreza, contra as desigualdades e contra as forças externas que procuram subverter a soberania dos nossos Estados.

O nosso legado é vasto e inquestionável. Juntos, os Movimentos de Libertação moldaram o destino da África Austral, conquistaram a independência, desmantelaram sistemas opressivos e inspiraram gerações inteiras a acreditarem num futuro de justiça social e dignidade.

Hoje, porém, somos chamados a uma nova etapa dessa mesma luta, a luta pela preservação dessas conquistas, face às ameaças contemporâneas e garantir que os frutos da liberdade alcancem todos os nossos cidadãos.

Caros camaradas, é comum reconhecer-se que o mundo mudou e continua a mudar rapidamente. Vivemos em sociedades em rápidas transformações, com crescentes exigências de participação política, pressões económicas, sociais e ambientais, e um escrutínio cada vez maior por parte dos cidadãos, da sociedade civil e da comunidade internacional.

Factores que, inevitavelmente, entram na equação que resulta na nova geografia política e eleitoral nos nossos respectivos países.

Em tempos de grandes pressões socioeconómicas, de “neocolonialismo” sob novas formas, de exploração desmedida dos nossos recursos e de percepcionada marginalização dos jovens e das mulheres, impõem-se sobre nós responsabilidades acrescidas.

Enquanto ex-Movimentos de Libertação, cabe-nos liderar com coragem as transformações económicas e sociais reclamadas pelos nossos contextos locais, somos chamados a provar, todos os dias, a nossa relevância perante sociedades cada vez mais informadas e exigentes.

Impõe-se, assim, o reforçar a solidariedade entre os nossos povos e manter viva a chama dos ideais pan-africanistas e anti-imperialistas legados pelos nossos respectivos pais-fundadores.

Estes fenómenos demandam maior concertação política e económica, para juntos enfrentarmos os desafios comuns, que devem estar devidamente catalogados para uma acção direccionada e incisiva das lideranças. Neste sentido, devo destacar a nossa maior atenção para:

• A necessidade de reafirmação da confiança dos cidadãos nos ideais que nos norteiam, sobretudo junto das camadas mais jovens, mais críticas e mais exigentes, no contexto actual;

• O reforço da capacidade institucional de responder às crescentes desigualdades sociais e económicas, promovendo uma governação cada vez mais inclusiva, responsável e de responsabilização;

• A necessidade de troca de informação, conhecimento e inteligência político-partidária.

Toda esta articulação no quadro deste processo deve entre outros, assegurar sempre a defesa da soberania dos nossos Estados e dos interesses nacionais, face às pressões externas, muitas vezes camufladas em agendas que não respeitam as nossas realidades históricas e culturais.

O MPLA considera que as demandas internas e externas, como a compreensível pressão dos novos públicos políticos, com realce para os jovens, as mulheres e os movimentos sociais, aliada à vigilância internacional sobre os processos democráticos e de direitos humanos, obriga-nos a aprimorar a nossa acção política, com maior transparência, maior diálogo, participação e maior eficácia.

Desafios que apenas os podemos vencer com coragem para inovar e para reformar, sem nunca abdicar dos princípios fundadores que nos unem. Divisas que, por sinal, inspiram o lema desta cimeira.

Razão bastante para que compreendamos, hoje, a necessidade de estratégias comuns, que salvaguardem o interesse maior que sempre esteve na vanguarda da nossa existência e da nossa luta.

Excelências,

O MPLA tem vivido esta realidade no seu próprio processo interno. Nos últimos anos, sob a liderança do Camarada Presidente João Lourenço, o Partido reafirmou-se internamente com uma agenda de renovação ética e moral da vida política nacional, assente na eficiência das instituições do Estado, no combate sem tréguas à corrupção e à impunidade, na responsabilização dos gestores públicos, mesmo num contexto de enormes adversidades económicas resultantes de factores como a recente pandemia, a nova ordem geopolítica e comercial que o mundo enfrenta, da queda do preço do petróleo e de outros choques externos.

Sabemos, pela nossa experiência, que modernizar um Partido histórico, torná-lo mais próximo do povo e simultaneamente liderar reformas profundas no Estado exige coragem política, pedagogia constante e uma visão clara do interesse nacional acima de interesses particulares.

Esta é a nova ética que o MPLA procura consolidar: um compromisso inabalável com a moralidade, a eficiência e a justiça social.

Nesta ordem, enquanto portadores dessa experiência recente, e, considerando a actual demografia dos nossos respectivos países, marcada essencialmente por uma grande maioria jovem, permitam-nos apontar algumas linhas, que o MPLA considera importantes de serem observadas para a formulação de uma estratégia política comum, entre os nossos respectivos partidos, nesta visão incluímos:

 O reforço da comunicação política e da pauta cívica, que permita maior aproximação dos nossos partidos às respectivas bases sociais, e responder de forma clara às inquietações das populações;

 Maior investimento no capital humano e na formação política, para que os quadros estejam cada vez mais preparados e mais competitivos para o enfrentamento dos desafios contemporâneos;

 A promoção de alianças regionais e internacionais solidárias, que nos permitam enfrentar colectivamente as ingerências externas e impulsionar o desenvolvimento sustentável dos nossos respectivos países;

 Desenvolver centros regionais de comunicação digital para formação e capacitação em marketing político, combate à desinformação e promoção de narrativas africanas;

 Dinamizar intercâmbios culturais, académicos e cívicos entre jovens militantes da região; e, investir em programas regionais de capacitação e empreendedorismo juvenil para a integrar economicamente essa maioria jovem;

 Estabelecer um Observatório Regional para Estudos Políticos, Económicos e Sociais, que produza análises conjuntas sobre fenómenos emergentes, tais como migração, clima, novas tecnologias, entre outros domínios.

Excelências;

Caros camaradas;

A presente Cimeira oferece-nos por isso, mais do que um espaço de análise, a oportunidade de reafirmarmos a nossa unidade, a troca de experiências e a renovação de compromissos em prol dos ideais pelos quais os nossos povos tanto lutaram.

O MPLA reitera assim a sua total disponibilidade para continuarmos a trabalhar com todos os partidos irmãos aqui representados, na construção de projectos comuns, de soluções inovadoras e solidárias para os desafios do presente e do futuro.

A hora é agora. O momento exige de nós uma introspecção honesta, uma renovação dos nossos métodos de acção e a coragem para enfrentar os desafios de frente, com a mesma determinação com que enfrentámos o colonialismo e o apartheid.

Que esta Cimeira seja, pois, um marco de renovação e de reforço da unidade. Que possamos sair mais fortes, mais coesos e mais preparados para honrar as conquistas do passado, assumindo as responsabilidades do presente e enfrentar as exigências do futuro.

Por uma África Austral livre, justa e solidária!

Por uma África melhor para todos os seus filhos e filhas!

A luta continua, a vitória é certa!

Muito obrigada pela atenção dispensada.